Todas as vidas são baseadas em histórias. Quando chega a casa do trabalho a primeira pergunta que lhe fazem é, "Como é que te correu o dia?". Por outras palavras, "Conta-me a história do teu dia, se faz favor." Encontra uma amiga para almoçar e ainda antes de pegar no guardanapo, ela pergunta, "Então, novidades?" Por outras palavras, "Conta-me uma história." Se tem crianças, raramente precisa de lhes pedir para contar histórias. Elas vivem as suas vidas num mundo cheio de histórias, e contam-lhas, quer você goste ou não, até ao mais ínfimo detalhe. Dada esta evidência, perguntei-me o seguinte: "E se aquele sonho fosse realidade? E se eu for, de facto, uma personagem numa história?" Por um lado sei que o sou. Se perguntassem por mim aos meus pais teriam a confirmação definitiva de que eu sou realmente uma personagem de muitas histórias - só que as histórias são deles. De igual modo, se perguntassem aos meus amigos, aos meus pacientes, aos meus colegas - todos eles contariam histórias sobre mim.
Mas não é isso que eu quero dizer com a pergunta. E se eu - ou você - fosse uma personagem numa história? E se as vidas que vivemos fossem, de facto, um exercício de ficção? Como é que poderíamos saber? Partindo do princípio de que a história é coerente e de que as personagens e as suas vidas fazem sentido, como é que uma personagem poderia saber que fazia parte de uma história? Obviamente, só alguma coisa exterior à história, alguma coisa introduzida do lado de fora, poderia chamar a atenção da personagem para a situação que estava a viver. E, no entanto, qualquer que fosse essa extraordinária ocorrência, teria ela própria que ser parte da história; teria que fazer sentido, ter um determinado significado relativamente às personagens, ao enredo, ao princípio, ao meio e ao fim da história. Certo?
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