(…) Parece bizarro que uma dedicação firme à paz e ao lado bom da vida possa atrair uma ira violenta, mas atrai. Pensem em Gandhi, em Martin Luther King. Eu sou apenas uma gota neste rio de lágrimas e crença. Por vezes o meu coração fica preso na garganta e eu tenho de parar por um segundo com a mão na maçaneta de uma porta ou no metal frio de uma chave, reunir no meu coração a misericórdia de tudo aquilo em que temos de acreditar, e dizer a minha própria oração por todos nós – que encontremos o caminho através de cada hora das nossas vidas que tenham sido dignas da missão. (…)
(…) Espera-se que nós alinhemos neste plano, em que as pessoas perdem guerras e as empresas vencem-nas – os construtores de mísseis, as empresas mineiras, os magnatas do petróleo, e isso é só o que está à vista –, e uma pessoa pequena como eu não devia atrever-se a ser tão insolente ao ponto de sugerir um momento de pausa para rever o monstruoso desperdício humano de um ciclo interminável de retaliação violenta. Bom, eu estou a atrever-me. Li que alguns dos mísseis que estamos a usar (no dia deste escrito) contra o nosso inimigo actual – um dos países mais pobres do mundo – custam um milhão de dólares cada um. Perdoem a ultrajante sugestão, mas alguém já considerou mandar o dinheiro aos civis inocentes para que eles possam acabar com a desprezível tirania no seu seio e salvar toda a gente de uma enorme limpeza? Os grupos de pessoas tendem a juntar-se a cultos de raiva e vingança apenas quando estão desesperados. (...) A arrogância é uma arma dúbia – de qualquer maneira, um prato de acompanhamento inadequado para servir com uma guerra. (…)
(…) Não consigo imaginar como é que alguém, criança ou adulto, consegue estar sentado imóvel durante as três horas e quarenta e seis minutos que compõem a nossa média nacional de audiência televisiva. Para mim, estar sentada imóvel é provavelmente a parte mais difícil da premissa. Lutei toda a minha vida com uma impaciência constitucional contra qualquer coisa que ameaçasse gastar o que resta dos meus minutos aqui na terra. Começo a ficar inquieta em qualquer reunião da comunidade em que o primeiro tópico da ordem de trabalhos seja discutir e votar a ordem dos outros tópicos da ordem de trabalhos; tenho de fazer discretas posições de relaxamento de ioga na minha cadeira para não gritar: «Ei, minha gente, a vida é curta!» (…) |