A convicção de que o medo pode ser gerido através da reeducação, surgiu da minha própria experiência. Quando era mais nova, geria-me pelo medo, não sendo pois de surpreender que durante anos me tenha envolvido em muitas coisas que claramente não me correram de feição.
Parte do meu problema residia na pequenina voz incessante que não parava de dizer: “É MELHOR NÃO MUDARES A TUA SITUAÇÃO. NÃO HÁ MAIS NADA POR AÍ PARA TI. NUNCA O CONSEGUIRÁS FAZER SOZINHA.” Sabem do que estou a falar – daquela que nos lembra constantemente, “NÃO CORRAS O RISCO. PODES COMETER UM ERRO. MEU DEUS, COMO TE VAIS ARREPENDER!”
O meu medo parecia não enfraquecer, e eu não tinha um minuto de paz. Nem mesmo o doutoramento em psicologia parecia ajudar-me grande coisa. Então, um dia, enquanto me vestia para ir trabalhar, atingi o ponto de viragem. Olhei por acaso para o espelho, e vi uma imagem demasiadamente familiar – olhos vermelhos e inchados das lágrimas de auto-comiseração. De repente, a raiva subiu dentro de mim e comecei a gritar para o meu reflexo, “CHEGA... CHEGA... CHEGA!” Gritei até esgotar a energia.
Quando parei, senti um estranho mas maravilhoso sentimento de alívio e calma como nunca antes sentira. Sem o compreender na altura, tinha entrado em contacto com uma poderosa parte de mim que até àquele momento nem sabia que existia. Lancei novamente um longo olhar para o espelho e sorri ao mesmo tempo que acenava que SIM com a cabeça. A velha e familiar voz das tristezas e desgraças fora abafada, pelo menos temporariamente, e revelava-se agora uma voz nova – uma que falava de força e amor e alegria e de todas as coisas boas. Nesse momento percebi que não ia deixar que o medo me vencesse. Encontraria uma forma de me livrar do negativismo que dominava a minha vida. E assim começou a minha odisseia. |